Entenda porque o aluguel não é dinheiro jogado fora e em quais casos a compra do imóvel é indicada
Existe no Brasil uma forte crença de que aluguel é “dinheiro jogado fora”. Talvez por isso tanta gente tenha o sonho de comprar a casa própria. Uma pesquisa recente feita pelo Núcleo Brasileiro de Estágios com jovens de 15 a 26 anos mostrou que a aquisição de uma casa ou apartamento é o desejo de 21% deles – atrás apenas de conseguir um emprego.
“Acredito que no Brasil ainda haja essa questão histórica de que todos querem a casa própria por conta daquela cultura de que ‘quem compra terra não erra’, que existia muito no interior do país. Comprar lotes ou imóveis sempre era visto como uma atitude positiva”, explica Erasmo Vieira, especialista em finanças, palestrante e autor do livro “Viva em Paz com Seu Dinheiro”.
No entanto, o que nem todos sabem é que atualmente o aluguel pode ser mais vantajoso do que a compra de um imóvel do ponto de vista financeiro. “A casa própria costuma ser o bem mais caro que adquirimos em nossas vidas. Então, é necessário fazer um planejamento para tentar minimizar o impacto disso no orçamento”, alerta Vieira.
Financiamento não é só o valor da prestação
Antes de assinar um financiamento e entrar em uma dívida enorme para chamar um imóvel de seu, pense bem. Coloque no papel a sua renda e o valor que você terá de destinar mensalmente para pagar o financiamento. Então, responda a si mesmo questões como: quantos por cento isso representa de seu salário? Você conseguirá viver bem com o que sobrar? Restará alguma quantia, ainda que mínima, para investir? Além do preço da prestação você está considerando as despesas como condomínio, IPTU e manutenção do imóvel?
“Sempre pergunto quão importante é a casa própria na vida da pessoa. É assim que se define se a compra deve ser feita ou se vale a pena esperar um pouco mais. Muitas vezes, queremos a casa, mas também sonhamos com um carro e com viagens, por exemplo. Ter muitas prestações todo mês é pesado”, afirma o especialista.
Compre à vista ou financie o imóvel o mínimo possível
O cenário ideal para adquirir um imóvel é ter o valor integral, para pagar à vista. Com o dinheiro em mãos, você tem amplo poder de negociar com o proprietário ou a construtora e, assim, são grandes as chances de conseguir um desconto.
Mas é claro que comprar à vista é difícil para a maioria dos brasileiros, já que os imóveis têm valores muito elevados e, para isso, é preciso poupar por um bom tempo. Portanto, a segunda opção mais recomendada na hora de comprar uma casa é financiar o mínimo possível. Pague o máximo que puder de entrada e parcele em poucos meses o valor baixo que restar.
“Com um prazo menor de financiamento, a pessoa paga menos juros. Quem entra no financiamento deve estar ciente de que está pagando juros altos. Uma taxa de 9% ao ano parece pouco, mas isso eleva muito o preço pago pelo imóvel ao longo de 20, 30 anos”, ensina o consultor financeiro Erasmo Vieira.
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Financiar imóvel ou esperar mais tempo?
“Normalmente, nos longos financiamentos, como os de 30 anos, a cada R$100 mil financiados, a pessoa gasta, na verdade, mais de R$ 200 mil no final das contas. Ou seja, o valor mais do que dobra ao final do período. É preciso estar ciente que os juros existem. Portanto, essa é a maior dica para quem quer comprar: escolha um imóvel mais simples, que você consiga quitar rapidamente. Assim, ele pode ser uma ferramenta de troca por outro maior no futuro”, diz Vieira.
Contas, contas, contas
Imagine que você quer um imóvel de R$ 500 mil e pode pagar R$ 100 mil de entrada, financiando o restante em décadas. Ao final do financiamento, você terá pago mais do que o dobro do imóvel, devido aos juros cobrados pelo banco.
Por outro lado, se você colocasse aqueles R$ 100 mil em um bom investimento e ainda conseguisse poupar e investir uma quantia todo mês, poderia ter o valor para pagar o imóvel à vista em menos de dez anos – morando, durante esse período, em um imóvel alugado que coubesse em seu orçamento.
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Fique atento aos juros
Para fazer a melhor escolha é preciso ter em mente diversas variáveis, como o valor do imóvel que deseja comprar, o preço de aluguel que poderia pagar, o tempo de financiamento, a taxa de juros do financiamento, a taxa de valorização do imóvel a longo prazo e o juros que um bom investimento pagaria.
Parece muita coisa? E é mesmo. Mas não faltam opções na internet de “calculadoras de compra versus aluguel” que levam em consideração todos esses fatores e te mostram o cenário mais vantajoso em cada caso. Inclusive, você controla os gastos do seu filho desde pequeno? Veja qual a importância da educação financeira infantil.
Questão essencial e gastos altos
Outra variável importante a se considerar é a seguinte: quantos anos você pretende viver no imóvel? Lembre-se de que quem compra uma casa ou apartamento precisa pagar as despesas cartoriais e os impostos envolvidos na negociação – que são valores altos!
Para se ter ideia, no Estado de São Paulo, se você compra um imóvel de R$ 500 mil, precisará estar preparado para desembolsar em torno de R$ 25 mil a mais só em impostos e documentação – aproximadamente 5% do valor do imóvel.
Então, coloque tudo na balança e veja se vale mesmo a pena ter esse gasto para o período que você pretende morar em determinado local – especialmente se você já sabe que esse período será curto.
Pague o aluguel e poupe: este é o segredo
O aluguel não é dinheiro jogado fora, desde que você saiba escolhê-lo bem. Isso quer dizer que é preciso pesquisar bastante e optar por alugar uma casa que tenha um valor acessível, sem comprometer tanto o seu orçamento, para que você consiga poupar um pouco todo mês. Você irá conseguir! Inclusive, conheça a Ciclic e saiba como poupar.
“Quando se paga um aluguel muito caro, de luxo, acima do padrão de vida que se pode bancar, aí sim pode-se considerar que está jogando dinheiro fora. Mas se for um valor baixo, que não pese muito na renda, tudo bem”, informa o consultor financeiro Erasmo Vieira.
O “valor ideal do aluguel” deve ser aquele que cabe no seu bolso e ainda te permite poupar uma quantia todo mês. Mantenha os pés no chão e não fique deslumbrado com seus rendimentos mensais. Por exemplo: ter um salário de R$ 8 mil e gastar R$ 6,5 mil só de aluguel, fora as despesas mensais, é uma conta não fecha. Fique de olho em suas escolhas.
Observe também se o valor cobrado pelo aluguel faz sentido: um preço justo representa de 0,5% a 0,8% do valor do imóvel. Suponha que você gostou de um apartamento cujo aluguel é R$ 2 mil ao mês. Verifique o preço desse mesmo imóvel para a compra e faça as contas: se ele está avaliado entre R$250 mil e R$ 400 mil, tudo bem pagar os R$ 2 mil mensais. Já se ele vale menos de R$ 250 mil, o aluguel de R$ 2 mil está caro demais.
“O importante é sobrar dinheiro a cada mês para conseguir fazer uma reserva, investir e ainda poder estudar, se capacitar e se aperfeiçoar, para sempre melhorar na carreira e ter uma boa situação financeira”, alerta Vieira. “Essa economia demanda muita disciplina e persistência. É preciso foco para saber que aquele dinheiro será usado em um imóvel futuro, para não gastar com outras tentações que surgirem”.
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